História

Antes de mais nada, eu gostaria de dizer que chamo aqui todo tipo de brinquedo de corrida de carros em uma pista, pelo nome de "autorama", apesar de eu saber que este nome é uma marca da Estrela, e que não deveria ser usado quando nos referimos a outras marcas. Eu faço isto apenas por não conhecer nenhum termo mais apropriado para identificar este tipo de brinquedo.

Feito este esclarecimento, vamos em frente. Para quem quiser já ir para as páginas que falam diretamente dos modelos de TCR lançados pela Trol no Brasil, estão disponíveis os links a seguir:

Série Grand Prix
Série Rallye
Série Auto Estrada
Série Kart

Para os que querem ler uma história mais longa e detalhada sobre a história do TCR no exterior, e sua vinda para o Brasil, continuem lendo.

Origem

Quem nunca observou um autorama em funcionamento, e após algum tempo, não se fez a seguinte pergunta: "Isso aí é muito legal, mas já pensou se os carros pudessem mudar de pista??".

Talvez esta seja a principal diferença entre um autorama tradicional e uma corrida de verdade. Não que a falta desta habilidade tire o brilho deste tipo de brinquedo tão popular e divertido, mas se formos pensar nisto friamente, vamos acabar admitindo que falta liberdade aos carros de autorama na pista, eles acabam funcionando muito mais como trens, presos a um trilho, do que como carros, que por definição são livres para procurar sua melhor posição em uma pista.

Entretanto, isto mudou na década de 1970, quando a Ideal Toy, tradicional indústria de brinquedos americana, fundada no final da década de 1940, com sede em Nova Iorque, criou o que viria a ser o primeiro "slotless car system", ou seja, o primeiro autorama sem o "slot", a fenda onde o pino do carro se encaixa. Um sistema diferente foi criado para manter o carro na pista sem a necessidade do pino. Sem o pino, o carro podia então mudar de faixa.

O sistema criado pela Ideal foi batizado de TCR, ou Total Control Racing. O chassis do TCR era simples, mas engenhoso. Ele tinha um eixo dianteiro que podia ser rotacionado lateralmente um pouco, para facilitar a mudança de pista, que era obtida com a mudança de rotação do motor através de uma chave extra no controle. De acordo com a direção do mesmo, era uma ou outra roda traseira que dava tração ao carro, jogando ele para um lado ou outro da pista, dependendo de qual roda estava ativa. Como sempre acontece com uma novidade, alguns viram a nova invenção da Ideal como algo muito legal e revolucionário, capaz de acabar com os autoramas tradicionais (que exagero!), mas outros (principalmente hobbistas e crianças mais velhas) torceram o nariz e taxaram o TCR de "brinquedo para crianças".

Um fator que contribuiu muito com esta falta de popularidade do TCR entre o hobbistas, foi a baixa qualidade de acabamento que o TCR da Ideal tinha em relação a outras marcas de slotcar tradicionais, como a Aurora e Tyco. Os carros eram feios, mal acabados, e os chassis tinham folgas enormes nos orifícios por onde os eixos passam. Outra coisa estranha eram os cubos de rodas em metal maciço, que eram completamente contrários à idéia do "menor peso possível" presente nos outros autoramas. Mas nada disso tirou o brilho do brinquedo, que tinha o apelo da mudança de pista a seu favor. Consequentemente, o TCR vendeu muito bem nos primeiros meses após seu lançamento.

Outra novidade do TCR era o Jam Car, conhecido no Brasil por alguns como "carro trapalhão". A função do Jam Car era atrapalhar os outros carros, que precisavam desviar dele para não bater e, consequentemente, perder tempo na corrida. Ele podia ser colocado para andar na mesma mão da corrida, ou na contra-mão. Vejam abaixo imagens dos chassis criados pela Ideal para o TCR. Da esquerda para a direta: visão superior do Jam-car, visão superior do carro de corrida comum, visão inferior do Jam-car, visão inferior do carro de corrida comum:

     

Evolução

Entre 1977 e 1978, a Ideal criou um novo modelo de chassis, chamado MK2. Este chassis trazia a novidade das carenagens presas por encaixe, e não apenas por parafusos, como no modelo anterior, que passou a ser conhecido como MK1 a partir de então. Outra mudança foi o eixo frontal fixo. O eixo móvel do modelo anterior era na realidade desnecessário, e causava uma complexidade maior na fabricação do chassis. Portanto, ele foi abolido no modelo MK2. A coroa e o pinhão duplo foram duas peças que sofreram pequenos ajustes, ficando mais fáceis de montar no modelo MK2. Veio também um chassis MK2 de Jam Car, permitindo o uso das mesmas carenagens de encaixe, sem parafusos. Foi molhorado também o desenho das sapatas de contato (ou pickup shoes, em inglês). As sapatas do modelo MK1 duravam menos, e eram difíceis de colocar. Devido ao método de encaixe delas, as molas que ficam embaixo podiam pular e nunca mais serem encontradas. Este problema também foi resolvido no modelo MK2, que foi inclusive o adotado pela Trol quando lançou o TCR aqui no Brasil. Vejam abaixo as visões superiores e depois as inferiores dos seguintes modelos de chassis MK2: Jam Car Trol, carro de corrida Trol, Jam Car Ideal Toy e carro de corrida Ideal Toy:


Em resumo, o modelo MK2 foi uma versão que não trouxe muitas inovações, mas que corrigiu pequenos problemas do projeto original. Convém notar, entretanto, que as sapatas, coroa e pinhão duplo, são peças incompatíveis entre os modelos MK1 e MK2. Note também que não há como se diferenciar os modelos Trol e Ideal Toy com facilidade. A única diferença visível está nas inscrições na parte inferior do chassis, muito pequenas para aparecer na foto.

Até mais ou menos 1978, o TCR vendeu bem nos EUA, mas depois decaiu muito, praticamente morrendo naquele país após apenas 2 anos de seu lançamento. No mesmo ano, a ideal lançou um novo modelo de Jam Car, o "Zig Zag Jam Car", ou "Super Jam Car". Esse carro tinha uma característica muito curiosa: era um Jam Car que mudava de pista sozinho, automatica e periodicamente. O mecanismo de mudança automática ficava na parte da frente do chassis, e era extremamente engenhoso. Na parte inferior do carro, existia uma chave capaz de configurá-lo para andar apenas na pista de dentro, apenas na de fora, ou ficar "ziguezagueando". Vejam imagens deste modelo de chassis abaixo:

     

Em 1980, a Ideal criou sets de autoramas tradicionais, de pino, e ao mesmo tempo lançou um novo chassis para o TCR, chamado de modelo MK3. O chassis MK3 era realmente diferente: aboliu os cubos de rodas metálicos, o mecanismo de mudança de pista foi totalmente redesenhado, o chassis tinha um centro de gravidade bem mais baixo, tornando-o mais estável na pista, e novas carenagens foram criadas. O chassis do autorama de pino era muito semelhante ao MK3, tornando possível o intercâmbio de carenagens. Nesta época, a Trol passou a lançar TCRs com o novo chassis, batizando a novidade de "TCR Série II". Vejam abaixo imagens deste modelo de chassis, da esquerda para a direita: visão superior do chassis de corrida Trol, visão superior do chassis de corrida Ideal Toy, visão inferior do chassis de corrida Trol e visão inferior do chassis de corrida Ideal Toy:

     

Nos chassis MK3 vendido pela Trol, é curioso notar que a fabricação foi feita na Espanha, e não é mencionado o nome da Trol. Aparentemente este chassis não foi fabricado no Brasil, ao contrário do MK2. O MK3 foi realmente foi uma melhoria muito grande em termos de performance e qualidade de acabamento, mas parece que a mudança veio tarde demais para recuperar a fama do TCR. As vendas não subiram muito, apesar da Ideal ter também licenciado nesta época seriados famosos como Knight Rider (Super máquina), Dukes of Wazzard (Os Gatões) e Chips, todos para seu novo autorama de pino, mas cujas carenagens serviam no TCR, com exceção das motos do Chips.

Nesta época, a Ideal já havia produzido muitos sets de TCR diferentes, com diversas opções de carenagens para todos os gostos. As imagens a seguir mostram os carros existentes até 1981:


Variantes

Apesar disso tudo, o TCR continuou sobrevivendo sob outras formas, na Europa (fabricado pela própria Ideal) e também no Brasil (fabricado pela Trol) até depois da metada de década de 80.

Na Europa, o TCR realmente decolou, ganhando um novo modelo de chassis, o MK4, muito parecido com o MK3, mas com um mecanismo frontal de mudança de pista mais bem desenhado. Lá também foram lançados centenas de modelos de carenagens diferentes, mais proporcionais e bem acabados do que muitos dos modelos vistos nos EUA. Novos tipos de pistas e acessórios foram lançados, enriquecendo muito as possibilidades do brinquedo.

No Brasil, até onde eu sei, a Trol lançou 4 séries de TCR: Série Grand Prix, Série Rallye, Série Auto Estrada, Série Kart

Cada série tinha suas próprias variantes e particularidades, como por exemplo a ponte quebrada e o túnel de fogo da série Rallye (inspirados nos modelos especiais de pistas lançados na Europa), e também as pistas de 3 e 4 vias do TCR Auto Estrada.

Eu gostaria aqui de fazer um parênteses, e falar um pouco do que a Trol fez com relação ao TCR aqui no Brasil. Ela nunca se limitou a fabricar o brinquedo da maneira como ele era fabricado nos EUA ou Europa. A Trol, em cada modelo de TCR, inovou, melhorou o brinquedo, e sempre fez questão de dar uma cara brasileira a ele. Nota-se isto claramente no TCR Rallye, com propagandas de indústrias nacionais, como a Cofap, Café do Brasil e outras, nos nomes e placas decorativas de pista do TCR Auto-Estrada, sempre citando estados e capitais brasileiras, e etc. Não sou fã de nostalgia gratuita, pois acho que devemos sempre olhar para o futuro e evoluir, mas dá muita saudade destes tempos em que a indústria brasileira tinha força e iniciativa para criar produtos feitos para o nosso país, mesmo que baseados em importados. Fica aqui esta pequena homenagem à Trol, que infelizmente não existe mais.

A Trol continuou fabricando o TCR até pelo menos a metade da década de 80, época em que podíamos contar com uma rede de assistências técnicas de TCR em pleno funcionamento, que durou até o fechamento da Trol, que ocorreu no início da década de 90, se não me engano.

Desfecho / Outros TCRs

Em algum momento na década de 80, a Ideal Toy foi comprada pela Tyco, que voltou a utilizar a marca TCR em sua própria versão do brinquedo. O TCR da Tyco era mais bem acabado, os carros corriam mais, mudavam de pista mais rápido, mas a exemplo do TCR da Ideal, acabou sendo descontinuado também.

Aqui vale um esclarecimento sobre escala: alguns consideram o TCR da Ideal como HO, mas na verdade a escala dele é 1/64, consideravelmente maior do que a HO. Eu mesmo considero o TCR como HO, pois isso facilita a descrição do brinquedo. Muita gente sabe o que é escala HO, mas quase ninguém vai conseguir imaginar com facilidade o tamanho de um carro escala 1/64.